terça-feira, junho 23

Bruna

O Sol ao fundo já ia se recolhendo, dando espaço para a lua, estrelas e desejos permearem a alma da cidade em movimento contínuo.
Relógios e telefones celulares também anunciavam o cair da noite, ou melhor, a hora de partida do trabalho. Logo pontos de ônibus se apinhariam de gente consumida pelo mundo moderno, que não mais olhava o céu, as estrelas ou mesmo a lua. Pensamentos confusos transbordavam naquela maré humana.
No entanto, alguns faziam o caminho inverso. Trabalhavam o corpo ou mente, assim que viam os raios solares indo embora.
Linhas e mais linhas formavam-se sobre a folha de caderno. Eram as linhas de um rosto talvez; tinha uma espécie de sorriso amargurado, ou constrangedor. A mão que executava tudo era certa em seus atos e rápida no preenchimento. Os olhos prestavam atenção nos traços e na bela noite que ia surgindo. Tentava lembrar de uma idéia, não queria que esta tivesse o mesmo triste fim de outras tantas, descartadas no galpão dos esquecimentos.
Enquanto o desenho ia tomando formas de rosto humano, feminino, um manso mar de realização encobria e começava a transbordar por entre os olhos e óculos da menina desenhista.
Finalmente, já sabia o motivo daquela peculiar idéia de montar um rosto permanecer em sua mente durante tanto tempo: era o rosto de uma amiga formando-se através de seus ligeiros e cadenciados traços! Como fez tudo aquilo e só agora conseguira identificar sua própria criação? Pergunta que pairará sobre nós, mas de qualquer maneira os instintos ou qualquer coisa outra tinham guiado mãos e formas para que o resultado fosse alguém tão familiar.

Um sorriso então. Um sorriso tornou-se a arma contra o tédio.

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