Queria escrever um livro, um manual, um folheto, uma carta, uma reclamação, um discurso, um poema, um verso. Mas com certeza não valerá a pena.
A falta de palavras talvez já expresse meu estado.
Queria escrever um livro, um manual, um folheto, uma carta, uma reclamação, um discurso, um poema, um verso. Mas com certeza não valerá a pena.
A falta de palavras talvez já expresse meu estado.
Dedilhando o vidro empoeirado e escutando o sabor do tempo passar moleque entre as frestas da vida, ela seguiu o corredor.
O som passou de uma valsa alemã para estridentes grunhidos vindos de diversos instrumentos, ao mesmo tempo, numa desordem, num caos (calculado).
Paredes paredes tijolos paredes, impacto. Cabelos esvoaçantes, cabeças esvoaçantes, braços, pernas, olhos.
Um clarão. Sonhos desfeitos, “não mais que perfeitos”. E tudo se vai, tudo se foi.
Tente acompanhar o ritmo da ventania ou do bater de asas da bonita borboleta. Ou morra.
“Threnody for the Victims of Hiroshima” by Penderecki
Nada poderia retirar daquela noite a faceta normal com que os moradores de São José se acostumaram a deitar sob suas camas, com certeza. Porém, a aparência negra do céu, as nuvens e mesmo a amena temperatura combinadas com um vento teimoso e gelado não pareciam ter qualquer relação com um grupo de jovens que, mesmo com todas as barreiras naturais impostas ao estarem ali, continuariam com seu ritual de união e passagem para outro estado, tendo como meio de transporte a bebida (de qualquer qualidade, apenas importando o efeito desta). Defendiam aquele hábito de ficarem acordados até tarde, bebendo e discutindo sobre banalidades típicas de adolescentes ali numa pracinha ampla e deserta com forças que talvez se igualassem às empregadas por Ulisses, quando fez viagem de volta para terra natal, não importassem os perigos por que iria percorrer.
Mas por aí acabavam as coincidências com o astuto herói, porque nenhum dos modernos jovens se disporia a ser tentado pelo cântico divino de sereias e teria a coragem e força de vontade necessárias para do mastro não sair, não ser perdidamente levado por aquele sobre humana beleza. O impulsionador deles era justamente o contrário: não queriam sair do torpor pelo qual seus ainda novos corpos e cérebros estavam inseridos, amarrar-se-iam para que nenhum anjo, demônio ou ser que fosse ousar retirá-los dali.
A letargia e felicidade só iriam se esvair no momento em que o efeito do álcool já tivesse por fim ido; ninguém ali era capaz de ser alegre e resolvido com a vida se não com a ajuda de entorpecentes. A cena lembrava o momento em que as crianças se vêem obrigadas a recolher os brinquedos e obedecer às ordens impostas por seus responsáveis: tão donos de si e das ações para com seus brinquedos, e agora reduzidos ao cumprimento de chatices ordenadas pela mãe. As horas para acabar com as tarefas chatas e retomar as brincadeiras eram contadas na fração de segundos, dependendo do desespero por divertimento que a criança tinha.
In the slums of an old big town it was possible to hear very fast steps coming from a woman’s shoes. This scene demonstrates almost exactly what the Night was like: always fast, and silent.
Among the destroyed buildings and accumulated garbage the woman walked rapidly looking every direction, in the search for some stalker who might be following her through that smelly neighborhood. One could never be safe once out in the streets. The night, along with the poor clarity of the moon on that day in particular, made it even more dangerous (if it was possible to be so).
To go out in conditions like those was pure madness or strong willing to do anything which would be unthinkable in the bright sky of a shiny day. If one wanted emotion, extreme feelings all over the bones, there were no better ways to have them yet discovered than to expose yourself like the woman that we’re following.
At the time, most of normal human behavior had changed, or destroyed, let’s say. Decades of wars made the society a dystopia full of non-human elements inside it. Relations between men were not human at all; people had become something similar to the machines that once they produced in large scales.
Our cute-looking woman (in contrast with everything else on that city) had crossed a bridge where connection between the slums and the centre was made, when suddenly, she’d to stop and wait until the patrols were out of that area. They’re the only ones permitted to stay on the streets and, if they saw anyone, to shoot was not an option, but an order. Having noticed the reasonable distance of the patrol, our heroin quickly got to a sewer passage nearby. It was a secret passage.
Finally she took out her vests and, with a clever and soft move, entered on a small room. There she met her other friends, who were also members of whatever kind of resistance there was. Even with all the oppression, hatred, poverty and madness governing a country or the whole Human race, there’s always those who goes against it. Some are judge as traitors or crazy, but in a world where ignorance is king, who’s right, after all? They’re fighting against the system, and they knew it. If they’re wrong, still they had knowledge of what they were fighting for. Know what choices you make, and their meaning.
A madrugada já ia se extinguindo, devolvendo o espaço que pairava sob todas aquelas cabeças e pés que se movimentavam horas antes, ao som da música saída de enormes caixas de som.
Era uma festa, uma das várias a acontecer naquela mesma noite é verdade. Porém, talvez fosse a única que apresentava um indivíduo com tamanha certeza da impossibilidade de alguns anseios tornarem-se reais. Estava tão certo quanto aquele momento o permitia. Tão certo como a inevitável tristeza que de que lhe trespassara a alma depois da salgada descoberta. O sonho que a lua trazia para ele não serviria.
Toda movimentação, alegria e energia vista ricamente decorado salão parecia não importar, até a não existir, perante os olhos daquele rapaz. Nítido era não que compartilhava de nenhum dos sentimentos que os outros viviam. Com rapidez e sem muito embaraço, pôs-se da entrada à mesa que provavelmente lhe era reservada em questão de minutos.
Nada podia ele negar, sua cara, diferentemente de outras por ali presentes, não era capaz de mentir qualquer vã coisa. Os traços – quase sempre sérios, atentos – denunciavam-lhe o caráter por trás do rosto. Os lábios não sorriam, e mostravam desinteresse nas trivialidades, assunto maior dos dias de hoje.
Depois de dez, vinte minutos à espera, avistou finalmente quem lhe tirava toda a atenção e calma por esses dias. Mais quatro mesas e já poderia falar com ela, no tom que até o momento não o tinha feito. Já como que desesperado se punha, para recebê-la e ir logo ao ponto, quando percebei que o destino dela não era a mesa sua, ia com passos leves e de presença até um outro, que por ali estava.
- Nessas horas a falta da visão ou mesmo atenção cairiam para mim como dádiva – resmungava ele em pensamento.
Ações e imagens podem de fato valer mais que mil palavras, ou até mil socos e punhaladas, como parecia ser o caso.
Voltava o moço ao assento, só que seus ares de sério já davam lugar à raiva e indignação. Seria possível dizer que machucado ou dor qualquer lhe causava desespero o suficiente para querer chorar e conseguir, mesmo que em mente, aliviar o mal sentido. A questão é que tais dores não provinham de rasgo na carne u fratura nos ossos, mas da alma. “Amar não é para amadores” um havia dito outro tempo, e qualquer um que por situação similar tenha passado, o sabe bem. Este tipo de dor é mais afiada que faca e mais dura e áspera que chão concretado.
Por fim, vinha a menina, que agora podemos ver melhor, com grande formosura e sorrindo o riso só possível para os que nada sabem ou não querem saber. Sua estatura era baixa e seus olhos, penetrantes. Semelhantes aos da águia caçadora e do jogador de xadrez, ao mesmo tempo. Eram castanhos, mas a cor nada ou quase isso preocuparia a quem por eles foi atraído. Se o olho for mesmo a janela de nossa alma, o dela servia como abertura para o Universo inteiro.
Proteger, olhar, zelar, querer, desejar, ajudar, perder, não tentar, falhar, chorar, perguntar, imaginar.
A proteção não reconheceu, o olhar desviou, o zelo desprezou, o querer afastou, o desejo suprimiu, a ajuda não adiantou, a perda ocorreu, a tentativa não houve. A falha sim, o choro também. E a pergunta, resposta alguma teve.
A imaginação continua.