segunda-feira, maio 25

            A madrugada já ia se extinguindo, devolvendo o espaço que pairava sob todas aquelas cabeças e pés que se movimentavam horas antes, ao som da música saída de enormes caixas de som.

            Era uma festa, uma das várias a acontecer naquela mesma noite é verdade. Porém, talvez fosse a única que apresentava um indivíduo com tamanha certeza da impossibilidade de alguns anseios tornarem-se reais. Estava tão certo quanto aquele momento o permitia. Tão certo como a inevitável tristeza que de que lhe trespassara a alma depois da salgada  descoberta. O sonho que a lua trazia para ele não serviria.

            Toda movimentação, alegria e energia vista ricamente decorado salão parecia não importar, até a não existir, perante os olhos daquele rapaz. Nítido era não que compartilhava de nenhum dos sentimentos que os outros viviam. Com rapidez e sem muito embaraço, pôs-se da entrada à mesa que provavelmente lhe era reservada em questão de minutos.

            Nada podia ele negar, sua cara, diferentemente de outras por ali presentes, não era capaz de mentir qualquer vã coisa. Os traços – quase sempre sérios, atentos – denunciavam-lhe o caráter por trás do rosto. Os lábios não sorriam, e mostravam desinteresse nas trivialidades, assunto maior dos dias de hoje.

            Depois de dez, vinte minutos à espera, avistou finalmente quem lhe tirava toda a atenção e calma por esses dias. Mais quatro mesas e já poderia falar com ela, no tom que até o momento não o tinha feito. Já como que desesperado se punha, para recebê-la e ir logo ao ponto, quando percebei que o destino dela não era a mesa sua, ia com passos leves e de presença até um outro, que por ali estava.

            - Nessas horas a falta da visão ou mesmo atenção cairiam para mim como dádiva – resmungava ele em pensamento.

            Ações e imagens podem de fato valer mais que mil palavras, ou até mil socos e punhaladas, como parecia ser o caso.

            Voltava o moço ao assento, só que seus ares de sério já davam lugar à raiva e indignação. Seria possível dizer que machucado ou dor qualquer lhe causava desespero  o suficiente para querer chorar e conseguir, mesmo que em mente, aliviar o mal sentido. A questão é que tais dores não provinham de rasgo na carne u fratura nos ossos, mas da alma. “Amar não é para amadores” um havia dito outro tempo, e qualquer um que por situação similar tenha passado, o sabe bem. Este tipo de dor é mais afiada que faca e mais dura e áspera que chão concretado.

            Por fim, vinha a menina, que agora podemos ver melhor, com grande formosura e sorrindo o riso só possível para os que nada sabem ou não querem saber. Sua estatura era baixa e seus olhos, penetrantes. Semelhantes aos da águia caçadora e do jogador de xadrez, ao mesmo tempo. Eram castanhos, mas a cor nada ou quase isso preocuparia a quem por eles foi atraído. Se o olho for mesmo a janela de nossa alma, o dela servia  como abertura para o Universo inteiro.

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